Diálogo, palavra muito em evidência, sinônimo de aproximação entre pessoas ou grupos com posições não convergentes. Parece óbvio que a subjetividade seja nossa marca e que cada um analise os fenômenos a partir de sua experiência cultural. No entanto, mesmo que utopicamente insistamos na prática do diálogo, faz-se necessário, para o bem da própria consciência dialógica, que consideremos que há enormes impedimentos à comunicação entre pessoas.
Em primeiro lugar porque vivemos uma realidade de terceiro mundo em que o controle da fala e sua manipulação ainda se constituem como mecanismos perversos, impeditivos reais à aproximação de posições. Em parte por conta deste controle e em parte por conta de uma ineficiência dialógica que surge como resultado de processos educativos frouxos, a fala se torna abjeta, sem consistência e pouco comunicativa. Vivemos o caos da comunicação, ao detectar que padrões do senso comum imperam como realidade dada.
Vícios de comportamento também eliminam qualquer chance de solidariedade no plano das ideias. As habituais teimosias verificadas em pessoas e grupos que não abrem mão de sua visão da realidade prejudicam enormemente a compreensão das realidades macro.
Há momentos, em que para o bem da boa conversa e do estabelecimento de processos democráticos de fala, se faz necessário que indiquemos ao outro os limites de suas inferências e compreensões de mundo. Didaticamente, enquanto educadores somos obrigados a cumprir esta função, não propriamente para denegrir a imagem de alguém ou impedir a manifestação livre de ideias. Em nome de princípios éticos mínimos, devemos convidar as pessoas a se sensibilizarem para que, em tempos de espaços livres de fala e escrita, meçam o teor de suas argumentações.
Na mídia impressa, certo grau de polidez talvez exista com maior visibilidade. Nas redes sociais, um vale tudo verborrágico só contribui para o enrijecimento da comunicação, a formação de guetos ideológicos sectários, de qualquer natureza, condições que atentam contra a boa comunicação, a comunicação qualificada e fundamentada.
O fato é que, como sempre ressaltou o educador Paulo Freire, reduzir a compreensão da cosmovisão do outro, sujeito da interpretação, a meia dúzia de impressões supostamente teóricas, elimina a solidariedade dialógica. Ele próprio, Paulo, tem sido vítima dessa visão rasteira, que o rotula como isso ou aquilo. Nada mal para quem sofreu diferentes influências teóricas e sempre se colocou a serviço do conhecimento.