Na última semana eu estava me dirigindo a um dos espaços do local em que trabalho. Encontrei-me com um ex-aluno querido e sua mãe. Fui seu professor de História no Ensino Médio já faz mais de uma década. Ao perguntar de sua vida pessoal, revelou-me algo muito significativo para mim, que surgiu como a prova viva de que realmente não é necessário muito esforço para que os resultados educacionais, humanos, apareçam. Diante dessa “malhação” científica à qual são submetidos todos os anos milhares de adolescentes e jovens estudantes, tive a certeza de que um pouco de acesso à cultura e boas relações interpessoais são mais que suficientes para formar boas pessoas.
Meu ex-aluno agora cursa doutorado na Universidade da Flórida. Ele não é o único entre as centenas, milhares que passaram pelas minhas mãos, que já chegaram a este nível elevado de formação escolar. Sou tomado pela vaidade, misturada com humildade, ao me deparar com o sucesso desses meninos e meninas. Sou tocado por eles e eles foram tocados por mim. Pessoas boas, de grande coração, nunca passam pela nossa vida sem deixar marcas. A prova final de meu sucesso como professor veio no fim de nossa conversa, quando nos despedimos. Ele me disse: “professor, deixa te dar um abraço!”.
Coincidências da vida, ela é sobrinho de um de meus melhores amigos, o que só faz aumentar minha admiração por essa família. Faltando poucos meses para poder requerer minha aposentadoria, sinto-me recompensado. Essas formas de consideração valem mais do que qualquer outro tipo de vantagem pessoal. Como educador, já tendo feito tudo o que desejava, sinto-me completo. Foram anos dedicados à escola pública, anos de luta sindical, anos de pesquisa acadêmica e ensino superior, anos como gestor escolar. Uma trajetória modesta, mas cheia de entusiasmo com minha profissão. Costumo dizer para meus atuais alunos e alunas, que não consigo entrar numa sala de aula sem alegria.
Minha esperança está – como estava em Paulo Freire -, no rico e complexo processo de relações humanas. É bem verdade que nem sempre nos sentimos à vontade com as pessoas, mas existem algumas que nos fazem esperançar. Uma delas é este menino bonito com o qual me reencontrei, Thales West, garoto incrível, sensível, inteligente, cuja família abençoada tem a sorte de ter como filho. E eu tive a sorte de ter sido seu professor e de toda a sua turma.