Depois de quase quatro décadas de trabalho, em vários setores privados e públicos, tenho me convencido de que há muito mais necessidade de simplicidade na condução de nossas relações de trabalho, do que sonham os mais perspicazes senhores do mundo dos negócios. Invadidos mentalmente pela lógica do mercado, muitos gestores públicos deixam-se seduzir por conceitos como “eficiência”, “qualidade”, “produtividade” e “controle”. Nada contra os cuidados e procedimentos mínimos de organização do trabalho, mas parece-me paradoxal, sobretudo para aqueles que estão na vida pública, que sua conduta seja pautada por essa lógica.
Enquanto educador indigna-me ser questionado por causa da defesa de ideias consolidadas nos estudos sobre educação, especialmente na área de gestão. Já foi o tempo em que gestão educacional era confundida com administração. Os processos de controle implantados no meio educacional, inclusive os que se valem do discurso da necessidade do uso das novas tecnologias da educação, nada mais são que reproduções sem reflexão e profundidade, do besteirol supostamente “tecnicamente” válido para a dinâmica da vida pública, escolar.
Nas escolas precisamos mais de pessoas, humanidade, vivências, experiência da arte e do corpo, que controles e eficiências. Pais que se deixam levar por ideologias de qualidade em educação, reforçadas pela tão criticada “validade das novas tecnologias” por Paulo Freire, nada mais fazem que ajudar a negar o caráter relacional e não controlável do processo educativo. Educação nunca se mensura. Quem pensa desta forma, sinto muito, está há anos luz de compreender os motivos pelos quais se deve educar. Quando não há reflexão, sobra reprodução.
É fato que há muitos problemas a resolver, alguns de ordem prática que dependem de quem está à frente dos processos. Não sobram críticas e incompreensões por parte dos que não percebem a complexidade de cuidados com sistemas de gestão. No entanto, nem tudo depende de “eficiências”. Irresponsabilidades de gestão nada têm que ver com limites provisórios e circunstanciais, que precisam ser superados com algum nível de organização e planejamento.
A aproximação entre pessoas não é tarefa fácil, exige esforço em cultivar a boa vontade. Muito da solução de problemas de gestão pública depende deste fator, além da capacidade de não cultivar a ingenuidade diante dos “mecanismos de participação”, sobretudo em tempos em que eles são confundidos com “falar e reclamar de qualquer coisa”. No mais, menos eficiência e mais simplicidade.